17 de novembro de 2015

Arte inGame: Sobre enredos e idiomas

Olá pessoal!
Como já discutimos um pouco neste artigo aqui, o enredo de um jogo de videogame e a forma com que ele é estruturado costuma ser visto como essencial por muitos jogadores em quase todos os jogos. Eu mesmo respondia sem hesitar que o principal para mim em um game era sua história. Acredito que já tenha ficado claro nesse texto anterior que trouxe para vocês os seguintes pontos: nem todo game possui enredo; e, se possui, pode não ser seu elemento principal.



Isso significa que alguns games possuem a história como nosso companheiro de jogo mais importante. Como o foco hoje não é analisar um game nessa perspectiva, não vou citar um jogo específico, mas um gênero que mostra isso claramente até mesmo em seu nome: visual novel. Esses "romances visuais" em geral apresentam uma história que seguimos fazendo algumas escolhas ao longo do percurso. Em alguns títulos, essas escolhas podem influenciar profundamente o andamento da história, ou apenas dar mais informações a respeito do que vem acontecendo em seu mundo-jogo. Há bastante ansiedade nesse tipo de jogo já que, afinal de contas, queremos saber o que vai acontecer a seguir constantemente.


Esse é um gênero que possui bastante força no mercado japonês tanto em suas versões eróticas, romance, como também naquelas sem nenhum desses elementos. Se considerarmos o fato de que no primeiro caso a história é pouco importante (o acesso a imagens que acaba sendo um objetivo externo ao jogo e não algo de fato inerente a ele), alguém que não domina o idioma japonês poderia jogá-los e aproveitar todo o mundo ao qual devemos nos submeter?


Parece-me evidente que não. Você pode aproveitar a mudança de alguns caracteres sem sentido para outros caracteres esquisitos na tela, algumas imagens de cenários e pessoas interagindo e eventuais opções igualmente incompreensíveis que aparecem de vez em quando e solicitam o aperto de algum botão.


Ou seja, podemos dizer que naqueles jogos em que a história é o elemento essencial, é preciso dominar a língua utilizada para contar a história. Seja essa habilidade a leitura, ou a audição de determinado idioma. Talvez seja possível que levantem o problema de jogos modernos recheados de Full Motion Videos (FMVs) e digam "mas dá para entender mais ou menos o que está acontecendo", mas aí temos um outro problema a ser pensado.

Se a compreensão do texto (falado ou escrito) não é relevante para a compreensão mais ou menos adequada dos objetivos do jogo, é possível que o enredo não seja seu elemento essencial. Por exemplo, se você joga um RPG escrito e falado em um idioma que desconhece completamente, você persiste nele porque outras coisas o chamam mais a atenção, não a história. Você pode até ler a sinopse num lugar qualquer antes de começar para saber mais ou menos do que se trata, decorar o que os menus fazem e coisas similares.


Antes de começar a estudar japonês, por exemplo, eu jogava Phantasy Star, Shining Force e Langrisser em japonês. Já conhecia suas histórias bem e só precisei decorar alguns itens e os menus mesmo. Shining Force nem mesmo isso tornou necessário: seus menus pictográficos são facilmente compreensíveis e dá para aproveitar cada combate sem entender uma única palavra do que escrito ali. E isso demonstra que mesmo RPGs com seus enredos mirabolantes e bem construídos podem não ter sua história narrada como algo principal. 


O jogo Kaze no Regret para Sega Saturn (cuja capa podem ver acima), desenvolvido pela WARP de Koji Eno, é um exemplo perfeito disso porque, tendo sido feito para pessoas cegas, não apresenta qualquer imagem e é totalmente falado. Evidentemente, falado em japonês e isso torna muito difícil tanto entender o que se passa como também a provável dificuldade de entender quando devemos escolher algo (e como escolher) para poder avançar sem algum conhecimento desse idioma.

Agora, peguem um jogo de ação qualquer também em um idioma que desconhecem. É possível jogá-lo muito bem sem entender coisa alguma do que é dito. Principalmente se forem jogos antigos em que não havia essa aparente compulsão por enredos complexos e cheios de reviravoltas.


Nós jogamos por outras coisas que não apenas a história. Claro que por vezes podemos buscar aprender determinado idioma para aproveitarmos mais plenamente o mundo que nos é proposto, contudo a nossa experiência já nos mostra que nem todo jogo de videogame é essencialmente um jogo literário.


Gostaria de dizer, antes da conclusão deste texto, que esse "aproveitar mais plenamente" se refere a games que são de certa forma jogáveis mesmo sem conhecimento do idioma em questão. Alguns outros podem exigir isso mais profundamente como vimos antes mesmo que o enredo não seja seu principal elemento. Um exemplo pessoal meu seria o "Alex Kidd in High Tech World". Este foi o primeiro jogo em que me vi forçado a folhear um dicionário de inglês para tentar entender o que era para ser feito, compreender dicas e responder as questões diversas que os personagens me faziam vez por outra.

É isso que queria compartilhar com vocês hoje! Até a próxima postagem!

4 comentários:

  1. Eis um jogo que sofri e muito jogando em japonês, Parasite Eve. Anos mais tarde joguei o mesmo no PSP em inglês e percebi que o jogo é facílimo de se terminar sabendo pra que servem os itens e montar as armas corretamente.

    ResponderExcluir
  2. Zelda foi um jogo que me exigiu mais do inglês e mesmo nova tive que me virar.
    O ponto chave num jogo, pra mim, é a jogabilidade, mas curto muito uma boa história.

    ResponderExcluir
  3. Gosto muito do gênero Visual Novel, mas por diversos motivos, joguei poucos deles em minha vida(um deles o idioma japonês de grande parte dos jogos. Entre os que joguei, menção honrosa para o Blazblue, que apesar de ser jogo de luta, tem elementos de visual novel em seu modo história. Simplesmente sensacional!

    ResponderExcluir
  4. De fato, tem jogo que se não conhecermos o idioma, não temos como prosseguir. Para algumas pessoas, nem mesmo a diversão ocorre. Um exemplo disso é a era Playstation [One], sempre que saía para comprar jogos (cof cof "alternativos" cof cof), eu fazia questão de perguntar a linguagem. O primeiro Final Fantasy 7 que comprei veio em japonês, contrariando o que o vendedor tinha me prometido. Isso me forçou a voltar na barraca e trocar por outro jogo (caso esteja curioso, Metal Gear). De jeito nenhum queria jogar sem entender o que estava acontecendo na história. Agora, o curioso é que conheço quem tenha jogado em japonês. Ou pelo menos tentou jogar, mesmo não entendendo nada. Acredito que para estes o enredo não importa tanto, mesmo que neste caso talvez o grande chamariz seja exatamente a história, os personagens, diálogos e dilemas.
    Curioso como o comportamento meio que muda de jogador pra jogador.
    Mas, como vc mesmo falou, existiam outras coisas que motivavam estes a continuarem. Agora um Visual Novel deve ser meio chato mesmo numa linguagem não dominada... rs
    Ótimo texto!

    ResponderExcluir